Por um novo modelo de ensino na pós-graduação

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Uma crise sempre trás junto uma oportunidade. Hoje uma mensagem de meu colega Valdeni do PPGIE da UFRGS me fez pensar muito sobre a atual situação do ensino Universitário e das consequências para o futuro. Em resumo ele postou o seguinte:

Eu e alguns colegas professores  sempre achamos um desperdício de tempo e de conhecimento a forma tradicional de exigir trabalhos impressos de final de disciplina, principalmente da pós-graduação. Pois, no final do semestre acaba tudo no lixo e o resultado não é compartilhado com ninguém.  Em uma disciplina em particular do PPGIE o resultado final é a geração de um artigo por aluno, o aluno é o autor principal, mas ele convida o professor e colegas que contribuíram fortemente para a coautoria. Este artigo é gerado em meio digital que deverá ser submetido para publicação em um evento ou journal.

Em uma disciplina de Modelagem Conceitual e Ontologia que ministrei no ano passado foram gerados três artigos, um já publicado e dois submetidos. Esta forma de conduzir as disciplinas tem uma importância fundamental na formação dos alunos: estimula a produção de um produto visível e útil, estimula a cooperação entre os colegas com a co-autoria e obriga a uma boa revisão bibliográfica na área do estudo. É evidente que a participação do professor no processo é relevante. Na atual crise epidemiológica as disciplinas que foram programadas neste modelo podem continuar normalmente.

Por outro lado o modelo de ensino engessado pelo MEC/CAPES precisa ser revisto. A equivalência de créditos por horas-aula é um modelo paternalista e que não estimula a autonomia dos alunos. Faz sentido definir, por exemplo, 4 horas de aula presencial por semana por todo um semestre para a concessão de 4 créditos? Os créditos não deveriam ser concedidos pelo resultado do trabalho?

Já em 2011 havia postado um texto sobre “A qualidade do Ensino depende do número de horas-aula?” onde escrevi:

Para mim o problema está bem caracterizado:

  • Modelo de ensino centrado em aulas, número de horas de aulas, tanto para o modelo de negócio quanto para avaliar a cobertura do curso.
  • Falta de tempo dos alunos para desenvolverem pesquisa complementar ou desenvolver trabalhos complementares fora das aulas.
  • É a visão de que se aprende na aula e não que a aula é apenas a apresentação do tema.

Com as medidas de controle da epidemia de COVID-19 estamos vendo que muita coisa pode ser realizada com as plataforma de EaD disponíveis. Depois de passada a crise será possível analisar os resultados obtidos com as diversas alternativas desenvolvidas. Mas nunca devemos nos esquecer que a utilização de EaD nas pós exige uma dedicação intensa dos professores, nunca pode ser vista como uma forma de reduzir custos. A qualidade exige esforço, é bom lembrar a citação em inglês: “No pain no gain”. Isto significa que esforço é necessário e engajamento dos alunos. Não se obtém bons resultados sem esforço, dos professores e dos alunos. 

O desafio está lançado: “Seremos capazes de aproveitar o resultado desta crise para reformular a legislação e as formas de ensino das pós-graduações no Brasil?”


 

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