As instituições nascidas na Europa no século XII como locais de produção e transmissão de conhecimento experimentaram na segunda metade do século XX uma evolução que está ligada à terciarização de um capitalismo obcecado pelo controle e pelo desempenho. No século XII, surgiram na Europa as primeiras universidades medievais, como a Universidade de Bolonha e a Universidade de Paris. Estas instituições se estabeleceram como centros de saber, dedicados à educação e à preservação do conhecimento. O currículo era amplamente humanista, focado nas artes liberais que incluíam gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, música e astronomia.
A partir da segunda metade do século XX, houve uma transformação significativa nas universidades e na forma como o conhecimento era produzido e disseminado. Vários fatores contribuíram para isso: a terceirização do capitalismo, a hiperespecialização, o declínio das humanidades e as mudanças nas ciências sociais. A economia capitalista tornou-se cada vez mais orientada para o setor de serviços (terciarização), levando a uma demanda crescente por profissionais especializados em áreas específicas como gestão, marketing e comunicação. Essa mudança refletiu-se nas universidades, que passaram a oferecer cursos e programas focados em preparar os alunos para o mercado de trabalho competitivo e especializado.
Com o avanço tecnológico e a complexidade crescente dos conhecimentos, houve uma fragmentação das disciplinas. Os acadêmicos passaram a se concentrar em áreas cada vez mais estreitas de estudo, resultando em uma hiperespecialização. Embora isso tenha permitido avanços profundos em áreas específicas, também levou a uma perda de perspectiva integrada do conhecimento. As disciplinas humanísticas, que tradicionalmente forneciam uma base ampla de conhecimento e reflexão crítica, começaram a perder espaço. A ênfase crescente em resultados mensuráveis e aplicabilidade imediata relegou as humanidades a um papel secundário. Este movimento foi exacerbado por uma visão utilitarista da educação, onde o valor de um curso ou disciplina é julgado pela sua capacidade de gerar retorno financeiro ou utilidade prática imediata.
A sociologia, entre outras ciências sociais, foi criticada por perder seu rigor científico e tornar-se um campo de confirmação ideológica. Em vez de se dedicar a uma análise objetiva da sociedade, muitas vezes tornou-se um veículo para a difusão de jargões e teorias que serviam mais a propósitos ideológicos do que científicos. Essa transformação tem várias consequências importantes: a perda de cultura geral, o impacto na inovação e a educação como produto. A ênfase na especialização e nas disciplinas voltadas para o mercado pode levar a uma formação acadêmica estreita, onde os estudantes carecem de uma compreensão ampla e crítica do mundo.
A hiperespecialização pode dificultar a capacidade de inovar, ao limitar a visão interdisciplinar, já que a inovação muitas vezes surge na interseção de diferentes áreas de conhecimento. A comercialização da educação transforma o aprendizado em um produto a ser vendido, onde o sucesso é medido pelo retorno sobre o investimento, em vez de pelo desenvolvimento intelectual e humano. Para enfrentar esses desafios, é fundamental promover um equilíbrio entre especialização e uma educação ampla e humanística, garantindo que as universidades continuem a ser locais de reflexão crítica e inovação interdisciplinar.
Compreender e iluminar o mundo não é mais o projeto desses alunos, e não é por acaso que vemos os alunos de universidades europeias se tornarem o posto avançado de todos os modos políticos importados dos campi americanos; isso ocorre porque muitas direções universitárias têm se empenhado em transformar essas instituições, que deveriam ser berços de pensadores, em escolas de negócios globalizadas. Nesse novo modelo, o conhecimento, que outrora era o objetivo central e nobre da educação superior, tornou-se acessório em relação às redes de contatos que os alunos são incentivados a criar, destacando uma mudança de foco das universidades para a formação de profissionais ajustados ao mercado global.
Esta instrumentalização do conhecimento reflete uma adaptação às demandas do mercado, onde a criação de conexões e a inserção em redes globais são valorizadas acima da compreensão crítica e da produção de saber. A falta de uma visão ampla da história e da realidade atual leva esses alunos a aceitarem afirmações simplistas e radicais, dificultando ainda mais o desenvolvimento de um pensamento crítico e independente. Este é o ponto central da minha interpretação sobre o fenômeno de radicalização que encontramos em muitas universidades.
As faculdades de Liberal Arts são instituições de ensino superior que oferecem uma educação ampla e diversificada, focada em humanidades, ciências sociais e ciências naturais. O termo “liberal arts” pode ser traduzido para o português como “artes liberais”, mas a tradução mais adequada seria “formação geral” ou “formação ampla”. Nessas faculdades, os estudantes são encorajados a desenvolver habilidades de pensamento crítico, comunicação e resolução de problemas através da exploração de uma ampla variedade de áreas de estudo. As faculdades de liberal arts geralmente oferecem programas de bacharelado em artes ou ciências, com um currículo flexível que permite aos alunos escolherem uma ampla gama de disciplinas eletivas.
Embora as faculdades de liberal arts tenham uma longa história nos Estados Unidos, elas têm enfrentado desafios nos últimos anos, incluindo o aumento dos custos de ensino e a competição com outras formas de educação superior, como as universidades de pesquisa e as faculdades técnicas.
No entanto, muitas faculdades de liberal arts continuam a ser altamente respeitadas por sua ênfase em uma educação ampla e diversificada, e seus graduados são frequentemente valorizados por suas habilidades de pensamento crítico, capacidade de se comunicar de forma clara e eficaz, e adaptabilidade em um ambiente em constante mudança.
Nos últimos anos, a educação superior nos Estados Unidos tem sido cada vez mais influenciada por uma ênfase na empregabilidade e no utilitarismo, o que tem levado a uma crise nas faculdades de liberal arts. Muitos estudantes e suas famílias estão preocupados em obter uma educação que leve diretamente a um emprego e a uma carreira bem remunerada, e isso tem levado a um aumento na demanda por cursos técnicos e de interesse imediato, em detrimento das artes liberais.
Como resultado, muitas faculdades de liberal arts têm enfrentado dificuldades financeiras, com queda nas matrículas e pressão para reduzir os custos e se adaptar a um mercado cada vez mais competitivo. Isso tem levado a cortes de programas e professores em algumas instituições, além de uma crescente preocupação com a relevância e a viabilidade dessas faculdades no mundo de hoje.
No entanto, os defensores das artes liberais argumentam que uma educação ampla e diversificada é essencial para preparar os estudantes para um mundo em constante mudança e enfrentar desafios complexos e interconectados. Eles afirmam que a educação em artes liberais fornece habilidades de pensamento crítico, comunicação, resolução de problemas e criatividade que são essenciais para qualquer carreira, bem como para a cidadania e o engajamento social.
Além disso, as faculdades de liberal arts têm uma longa história de produzir líderes em diversos campos, desde a política e a filantropia até as artes e os negócios. Muitos CEOs e líderes empresariais bem-sucedidos têm formação em artes liberais, argumentando que a educação nesse modelo fornece uma base sólida para a tomada de decisões e a liderança.
A crise das artes liberais é um reflexo de uma mudança mais ampla na educação superior em direção a uma abordagem mais utilitarista. No entanto, muitos argumentam que a educação em artes liberais continua sendo importante para preparar os estudantes para um mundo em constante mudança e enfrentar desafios complexos e interconectados, e que as faculdades de liberal arts têm um papel fundamental a desempenhar na educação superior.