A nova avaliação da CAPES

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Você já deve ter ouvido falar que a CAPES resolveu mudar, e mudar para valer, como avalia a produção científica dos programas de pós-graduação no Brasil. O QUALIS, aquele sistema que a gente aprendeu a respeitar (e às vezes a temer), vai ficando para trás. No lugar dele, chega uma nova sistemática, mais alinhada às práticas internacionais, com a promessa de ser mais justa, mais focada na qualidade dos artigos e, claro, cuidando para combater aquelas publicações predatórias.

A verdade é que a mudança não veio do nada. Durante muito tempo, era natural olhar primeiro para a revista onde o artigo saía publicado, como se o prestígio do periódico garantisse a qualidade do trabalho. Era um jeito prático de lidar com a avaliação científica, ainda mais num país tão diverso como o nosso. Só que, com o passar dos anos, ficou evidente que era preciso evoluir. Era preciso dar mérito ao artigo em si, e não somente ao reconhecimento da revista. Além disso, nossos próprios periódicos nacionais precisavam ser mais valorizados. E foi essa vontade de fazer justiça, de reconhecer o bom trabalho onde ele realmente acontece, que impulsionou a reforma.

A proposta é simples de entender, embora não tão simples de aplicar: em vez de olhar somente para onde o artigo foi publicado, agora se vai olhar também para o próprio artigo. A produção intelectual passa a ser o centro da avaliação, e não mais o periódico. Para organizar essa avaliação, foram pensados três procedimentos. No primeiro, ainda se considera o prestígio do periódico, mas de maneira mais refinada, com uma escala que vai de A1 a A8. No segundo, há uma combinação: olha-se para a qualidade do artigo e, ao mesmo tempo, busca-se valorizar as boas revistas brasileiras. E no terceiro, a análise é profundamente qualitativa, avaliando originalidade, avanço conceitual e relevância científica, com notas que vão de Ótimo a Insuficiente.

Claro que mudanças desse porte mexem com todo mundo. Para os programas de pós-graduação, o recado é claro: será preciso planejar melhor as publicações, buscar relevância real, e não somente mirar em periódicos de alto fator de impacto. Os programas de regiões menos tradicionais, tantas vezes injustiçados, terão mais chances de serem reconhecidos pelo mérito de suas pesquisas. Para nós, pesquisadores, abre-se um espaço de maior liberdade. Vamos poder publicar em veículos que verdadeiramente dialoguem com nossas áreas de estudo, sem ficarmos tão presos a rankings muitas vezes distantes da nossa realidade.

Os periódicos nacionais, por sua vez, recebem um estímulo importante: para continuarem relevantes na avaliação da CAPES, precisarão investir em qualidade editorial, ética e transparência — valores que, aliás, sempre foram caros à boa ciência nacional. Iniciativas sólidas como a SciELO tendem a ganhar ainda mais força nesse novo cenário.

Nada disso, porém, será feito muito rapidamente. A tradição manda fazer as coisas com calma e prudência. Até 2024, segue valendo o sistema atual. Em 2025, são publicados os documentos orientadores, e entre 2025 e 2028, viveremos uma fase de implementação e ajustes. Só em 2029 a primeira avaliação completa pelo novo modelo será realizada. Até lá, teremos tempo para entender, debater e, quem sabe, aprimorar ainda mais essa nova forma de reconhecer o esforço de quem se dedica à pesquisa acadêmica no Brasil.

É o começo de um novo capítulo, escrito com a seriedade que nossa tradição universitária merece.

Referência:
Silva, A. de O. (2025, março 27). Nova Sistemática de Avaliação da Produção Intelectual na Pós-Graduação (CAPES)https://doi.org/10.5281/zenodo.15093078


 A inspiração para este livro vem da convicção de que a Universidade é muito mais do que um espaço de transmissão do conhecimento. Ela é um organismo vivo, adaptável, que reflete as transformações da sociedade ao seu redor. Com base em minha longa experiência no ensino, decidi reunir crônicas e posts resultantes de profundas reflexões sobre a dinâmica acadêmica contemporânea. Este livro oferece uma visão crítica da Universidade diante dos desafios do século XXI, com foco especial no ensino a distância e no impacto crescente da inteligência artificial. Nesta obra, meu objetivo é compartilhar sobretudo minha experiência pessoal acumulada ao longo de anos de ensino, ao mesmo tempo, analiso os paradigmas que moldam a academia moderna.

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