Jovens pesquisadores e grandes grupos

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Recentemente (abril 2023) foi postado que em um debate de alto nível foi declarado o seguinte: “Existe um sistema de priorização que isola os jovens pesquisadores do Brasil. Só os mais experientes recebem verbas e conseguem sobreviver“. O comentário sobre os jovens doutores é preocupante. A distribuição de pequenas bolsas pode gerar pequenos projetos gerando pesquisa sem impacto. Sem hierarquia com grupos grandes coordenado por pesquisadores experientes não há possibilidade de resultados de alta qualidade, olhem o modelo no exterior. Os jovens pesquisadores devem iniciar em grupos relevantes, fazer estágios, que chamamos pós-doc, até atingirem tenure. Caso contrário terão projetinhos continuação da tese individuais e sem relevância. Tentamos, há anos, mudar isso com o ProTeM em CC. Os mais antigos sabem que eu sempre fui defensor radical do trabalho em grupo e de grandes projetos, que têm muito mais chances de obter resultados de impacto, que dependem de mais gente, mais recursos, mais tempo. Grupos maiores podem abrigar uma diversidade de pesquisadores, com perfis variados. Em particular, podem oferecer um ambiente muito mais propício para os jovens pesquisadores. Este é o maior ponto fraco de muitos grupos de pesquisa no Brasil: precisamos de ações institucionais convidando e agregando muitos pesquisadores. Não podemos depender de projetos, podem ser bons, individuais ou de pequenos grupos. Agi muito nacionalmente nesta direção, como citei no antigo projeto ProTeM. Precisamos de projetos incluindo os jovens pesquisadores em grupos consolidados. Já se passaram mais de 30 anos daquele projeto e estamos retornado à ideia de pequenas bolsas para pesquisadores individuais.

O Programa ProTeM-CC/CNPq (do Position Paper apresentado no painel “ProTeM-CC”, SECOMU ’96, Recife).

Um dos principais órgãos de apoio à pesquisa no Brasil é o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A forma de apoio tem sido orientada, tradicionalmente, ao financiamento de pesquisas a nível individual. O racional desta forma de ação é a consideração de que o fator determinante da qualidade da pesquisa consiste na competência individual do pesquisador. Dentro desta forma de trabalho os pedidos de apoio à pesquisa recebidos são enviados para a avaliação por especialistas na área, os pareceres técnicos são recebidos e o conjunto de pedidos de auxílio com parecer favorável são avaliados em reunião específica pelo Comitê Assessor da respectiva área de conhecimento.

Nos últimos anos, a consolidação de um certo número de grupos de pesquisa em Ciência da Computação tem elevado constantemente o grau de qualidade científica dos projetos apresentados. Por outro lado, a forma de apoio tradicional do CNPq estimula, de certa forma, um isolamento dos pesquisadores em seus projetos. Assim existem grupos consolidados de pesquisa espalhados pelo país e projetos, na sua maior parte, realizados em apenas uma instituição. Além disto, a grande quantidade de pedidos individuais de auxílio à pesquisa levam a um acúmulo exagerado de trabalho administrativo para os pesquisadores e dificuldades claras para as atividades de acompanhamento e avaliação.

A situação dos grupos emergentes, nesta estrutura, era relativamente difícil. Estes grupos, que contam com uma pequena infraestrutura e com poucos pesquisadores, encontravam dificuldades em competir com os grupos consolidados na busca de recursos. No final do ano de 1989 o CNPq, em contraposição à sua forma tradicional de ação, iniciou um novo e inovador programa na área de Ciência da Computação: o Projeto Temático Multi-institucional em Ciência da Computação – ProTeM-CC. Os objetivos principais deste programa foram estipulados como:

  • Mudar decisivamente o status da pesquisa e da formação de recursos humanos em ciência da computação no país;
  • Promover efetivamente a integração multi-institucional através da cooperação entre grupos de pesquisa (consolidados e emergentes) em torno de temas estratégicos de interesse nacional;
  • Executar uma centena de projetos de pesquisa nos temas estratégicos, diretamente apoiados e acompanhados no contexto dos objetivos do programa;
  • Articular esforços de cooperação bilateral em pesquisa pré-competitiva com os principais países e programas supranacionais;
  • Implantar um processo sistemático de planejamento e execução de atividades refletidos em planos quinquenais realistas e consistentes.