Não corra atrás das borboletas, plante uma flor no seu jardim e todas as borboletas irão até ela.
Walter D.Ehlers
Agora que a CAPES publicou a tão temida avaliação dos programas de pós-graduação do Brasil uma análise crítica é necessária. Todos os programas estão trabalhando sobre a pressão do QUALIS. Como já havia escrito está na hora de mudar o sistema de avaliação da produção científica no Brasil. Basta de bibliometria, precisamos discutir o que é realmente qualidade. A CAPES tem insistido que o QUALIS é uma ferramenta para a avaliação dos programas de pós-graduação e não dos pesquisadores. Mas isto é um mito, se a avaliação dos programas é funcionalmente dependente das produções bibliográficas dos pesquisadores qual Comissão de Pós-graduação não vai transferir a responsabilidade desta avaliação para a produção individual dos pesquisadores do programa? Não critico o processo de avaliação com ênfase em boas publicações, ao contrário acho isto essencial, mas a forma como esta avaliação tem sido feita está mal conduzida. Ao enfatizarmos tanto a publicação como forma de avaliar a qualidade o tema se tornou uma obsessão para os jovens pesquisadores criando uma forma egoísta de produção.
Talvez muitos não tenham conhecimento do Relatório do Seminário de Acompanhamento dos Programas de Pós‐graduação da Área de Ciência da Computação. A reunião contou com a presença de coordenadores dos cursos de pós-graduação em Ciências de Computação, os membros da comissão de Ciência de Computação da Capes e quatro convidados internacionais , Prof. Hans-Ulrich Heiss (TU-Berlin), Prof. John Hopcroft (Cornell University), Prof. Michel Robert (Université Montpellier 2), Prof. Eli Upfal (Brown University). Este trecho é essencial para fortalecer o ponto que tenho trabalhado sobre a avaliação:
“We strongly recommend that:… 2) CAPES replaces the quantitative based evaluation (number of papers, Ph.D. students etc.) with a qualitative evaluation based by periodic external committees. Quality, not quantity, is important. It is what in publications that needs to be evaluated, not the number of publications.
We recognize that Brazil may not be willing to take this important step at this time, so we comment below on how to improve the ranking process, although we sense that the ranking may have become counterproductive. Faculty are spending time on increasing the number of publications in high ranked journals, rather than focusing on quality research and excellence in teaching.”
Este é o ponto que tenho defendido: a qualidade não é obtida por publicações, mas as publicações são o resultado de boa pesquisa. Esta é a fonte da inspiração para o título desta crônica, as publicações são as borboletas e as pesquisas são as flores. Devemos cultivar as pesquisas de qualidade e não sair atrás de efêmeras borboletas, aliás, publicações.
Uma pequena história: há alguns anos estava comentando com um colega pesquisador europeu que um projeto meu não tinha sido aprovado, pois tinha proposta estudar o comportamento multiculturas de usuários no MERCOSUL. O motivo para a rejeição, justo, foi que na especificação do projeto não havia a indicação de pesquisadores na área de sociologia ou de psicologia. Ele me contou que havia passado pela mesma experiência. A diferença foi a continuação, resubmeti o projeto deixando claro que o que eu entendia por multiculturalidade era apenas a diferença de comportamentos navegacionais e de interação entre os usuários. Foi aprovado e para a alegria dos avaliadores acabamos com uma publicação em revista, opa! journal, B1. O mesmo se passou com meu colega, só que ele adicionou pessoas da sociologia. Onde está a diferença? Meu projeto recebeu R$ 30.000,00 e o dele 300.000 €. Esta é uma pequena amostra dos problemas que temos com pesquisas de porte.
Recentemente está ocorrendo uma revolta contra o establishment das casas editoriais. Há uma grande ênfase em publicações livre e uma discussão profunda sobre a cultura das publicações. Em um texto provocativo escrevi: Crise nas publicações científicas. É claro que o título foi para chamar a atenção e provocar, mas a ideia subjacente é esta: o importante é a qualidade da pesquisa, esta qualidade gerará boas publicações, permitirá a qualificação de jovens pesquisadores. Sendo a pesquisa uma atividade cooperativa apresenta, também, a característica positiva de estimular a cooperação e minimizar o egoísmo atual.
Recentemente foi publicado um artigo no Guardian onde um premio Nobel critica esta situação:
“Leading academic journals are distorting the scientific process and represent a “tyranny” that must be broken, according to a Nobel prize winner who has declared a boycott on the publications.
Randy Schekman, a US biologist who won the Nobel prize in physiology or medicine this year and receives his prize in Stockholm on Tuesday, said his lab would no longer send research papers to the top-tier journals, Nature, Cell and Science.
Schekman said pressure to publish in “luxury” journals encouraged researchers to cut corners and pursue trendy fields of science instead of doing more important work. The problem was exacerbated, he said, by editors who were not active scientists but professionals who favoured studies that were likely to make a splash”.
Está mais do que na hora da comunidade de pesquisa no Brasil assumir a necessidade de voltar back to basic, isto é, de valorizar a qualidade intrínseca da pesquisa e não a sua superestrutura visual de publicações.