Escolha um bom orientador e tenha futuro!

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Responda: Você é competitivo? Se a resposta for positiva leia esta crônica. Se você é um bom aluno de graduação ou se já se formou e pretende continuar seus estudos para a obtenção de um mestrado ou um doutorado continue a ler, este assunto é muito importante. No artigo As Universidades brasileiras são competitivas?discuto os problemas que são criados por algumas instituições pensarem que um curso universitário deve ser competitivo com base em seu preço (os marketeiros traduziram a palavra preço por investimento) e não pela sua qualidade. Agora, neste artigo e vídeo no YouTube, vou discutir a competitividade dos estudantes, será que os candidatos à pós-graduação são realmente competitivos ou estão procurando o caminho de menor resistência? Eu aposto na primeira opção, se alguém quer enfrentar uma pós deve ser competitivo! É para vocês este texto. 

Escolher um orientador não é uma decisão isolada, é preciso escolher a Instituição, encontrar meios financeiros para permanecer lá por dois anos para o mestrado e quatro para o doutorado e, finalmente, encontrar o orientador. Reparem que esta não é uma decisão fácil pois existem diversos parâmetros em jogo. Meu objetivo é auxiliar aos candidatos a uma pós-graduação tomarem a melhor decisão, não a perfeita mas a melhor possível dentro das limitações de cada pessoa. Se alguém vai investir dois anos de sua vida para fazer um mestrado ou quatro para obter um doutorado é preciso trabalhar bem na preparação do curso. Por analogia pergunto: quanto tempo se gasta para planejar e aproveitar bem umas férias de uma semana ou de quinze dias? Não seria adequado aplicar muito mais esforço no planejamento de anos de nossas vidas? Quantos fazem este planejamento? O planejamento para a escolha da pós-graduação a seguir é essencial. Lembre-se, você gasta horas e horas decidindo em que praia vai pegar as melhores ondas, para decidir sobre anos de sua vida é preciso muito mais planejamento. Seu futuro pode depender de uma boa decisão. Vamos tratar desta questão respondendo três perguntas: onde? como? com quem?

Para avaliações fidedignas, em Administração, utiliza-se uma técnica denominada de benchmark. Nesta técnica são escolhidas organizações-padrão, de alto reconhecimento no setor, e são obtidos indicadores chave para avaliar sua qualidade e desempenho. Após, estes mesmos dados são medidos nas organizações que queremos avaliar e os resultados são comparados com as organizações-padrão. Então é possível realizar comparações justas e precisas. Estas medidas devem ser estáveis e amplas. Pense nisto quando fizer comparações! Vou tentar ajudar nesta tarefa com a identificação das medidas necessárias para um bom benchmark para a avaliação de Instituições e de orientadores de pós-graduação. Estas medidas podem ser quantificadas por meio de perguntas. Mas não se engane pela propaganda, há algumas semanas li um anúncio de uma Universidade que se dizia a melhor em tudo, mas quando se presta atenção nas letras pequenas (critérios para a classificação) é possível notar que houve um cuidado extremo em selecionar competidores, para dizer o mínimo, muito particulares para a obtenção destes resultados. Outra falácia é a propaganda de cursos ditos “recomendados pela CAPES“, ora esta recomendação é para que o programa entre na fase de avaliação, no ciclo de quatro anos.

Para começar este planejamento a primeira pergunta a ser respondida é onde?Onde fazer minha pós-graduação? Se você é competitivo não se contente com pouco, escolha o melhor programa e o melhor orientador que puder. Seu futuro pode depender destas decisões. Isto não quer dizer que se for impossível entrar para um curso top seu futuro estará comprometido, nada disto. Se, ao final, você não conseguir entrar naquela Universidade top que estava planejando é hora de fazer os planos para as próximas etapas, escolha a melhor Universidade possível para seu perfil.

Há dois níveis na pós-graduação estrito-senso: o mestrado e o doutorado. Se você é candidato a um mestrado não há nenhuma razão essencial para ir para o exterior. A maioria dos mestrados no Brasil bem avaliados pela CAPES são melhores do que os cursos ditos “mestrado” no exterior. Com a reformulação européia decorrente da Declaração de Bolonha há uma série de cursos rápidos (de um ano) na faixa do mestrado.Há uma séria dificuldade em revalidar estes diplomas no Brasil pois, em geral, eles não têm o mesmo nível de exigência de nossos mestrados. A única condição real para justificar um mestrado no exterior é o fato de não existir algo na sua área específica por aqui, mas isto é, atualmente, muito difícil de acontecer. Outra justificativa é a experiência d intercâmbio, mas para isto você deverá encontrar fontes de financiamento alternativas, as agências brasileiras somente financiam mestrados no exterior em casos de absoluta inexistência de formação no tema aqui no país.

Para o doutorado você deve analisar bem suas opções, um bom doutorado no Brasil – com a previsão de um estágio no exterior (doutorado sanduíche) – pode ser uma ótima opção, melhor até do que um doutorado completo no exterior pois mantém o contato com a sociedade local e mantém ativos os contatos para um futuro trabalho. Quando vale a pena fazer um doutorado no exterior? Quando você consegue ser aceito em um centro de excelência exatamente na área de pesquisa desejada ou quando o assunto de sua escolha não está disponível no Brasil. Em áreas com tradição de pesquisa muito consolidada, como a Física, os alunos terminam o doutorado no Brasil e, só depois, são considerados preparados para um pós-doutorado em um centro de pesquisa estrangeiro. Neste caso o objetivo é a experiência em outros ambientes e o estabelecimento ou manutenção de projetos conjuntos de pesquisa.

Tomada a decisão sobre a região geográfica da pós-graduação vamos passar para a seleção da Instituição de destino. A seguir apresento um pequeno roteiro para avaliar um programa de pós-graduação para facilitar a resposta a esta pergunta:

Qualificação do corpo docente

  • No Brasil procure os CV Lattes dos orientadores que trabalham na sua área de interesse, veja se eles têm produzido regularmente, se suas publicações são em bons veículos de divulgação, para isto existe o número de citações dos artigos e o h-index associado ao professor.
  • No Brasil e no Exterior procure o Scholar Google com as publicações do professor, isso dará uma primeira ideia da atividade do mesmo.

Dedicação do corpo docente às atividades de ensino, pesquisa e orientação.

  • Os professores trabalham em tempo integral no ensino/pesquisa? verifique se o número de orientandos é compatível com o tempo de doutoramento do orientador, não se esqueça que pequenos grupos de pesquisa costumam ter menos alunos por orientador, mas isto não é uma regra geral. Observe, também, que há ótimos orientadores trabalhando em tempo parcial na Universidade, mas para a avaliação de um Grupo de Pesquisa é essencial que a grande maioria dos orientadores o seja em tempo integral.

Os temas de tese e projetos de pesquisa são atuais e relevantes na área específica?

  • Este quesito é mais difícil de avaliar, se não conseguir respondê-lo peça ajuda para seus melhores professores na graduação.

No caso de temas locais, estes são abordados ou desenvolvidos com a necessária qualidade científica?

  • Muitos programas tratam de temas de interesse local ou regional, mesmo neste caso se a pesquisa for de qualidade deve ter sido publicada em bons veículos de divulgação, nacionais e internacionais.

A infra-estrutura do programa (laboratórios, biblioteca recursos de informática, etc.) é adequada?

  • Algumas vezes as páginas dos programas permitem uma avaliação, se isto não for possível ou para complementar, sugiro a leitura de material como o Guia do Estudante da Abril ou a análise da Info Exame para a área de Computação. Use o e-mail ou fale com seus colegas ou conhecidos que estão estudando nos programas candidatos para obter informações complementares.

A primeira coisa a fazer é procurar responder estes itens e registrar os dados obtidos, você deve fazer uma planilha com os nomes dos programas pretendidos e dar uma nota para cada um dos itens. Os dados podem ser obtidos nas páginas Web de cada programa, do site da CAPES onde há uma seção denominada AVALIAÇÃO, de informações obtidas de seus professores, de opiniões de egressos destes cursos etc. No site da CAPES se encontram os critérios de avaliação e as fichas de avaliação de cada programa. Procure conhecer os cursos oferecidos, seus pontos fortes e fracos, suas áreas de atuação. Uma vez conhecidos os programas selecione aqueles que oferecem pesquisa em sua área de interesse, não adianta ir para um programa de boa qualidade mas que não tem pesquisadores trabalhando no seu assunto preferido. Concluída esta fase selecione os programas candidatos. Se a sua decisão tiver sido por um curso no exterior, muito cuidado. Só escolha cursos com alto renome, sair para um curso “meia-boca” não vale a pena de forma alguma, é melhor fazer um curso no Brasil onde há uma verificação séria da qualidade dos programas.

A segunda questão a ser respondida é como? Como você vai seguir o curso? Este critério deve ser avaliado em função de suas possibilidades econômicas, além disto, verifique as possibilidades de bolsas em cada um dos programas. Talvez seja interessante ficar trabalhando algum tempo para acumular uma reserva de dinheiro adequada para poder fazer um curso com mais dedicação. 

Bolsas disponíveis

  • Normalmente as bolsas do CNPq e de outras agências como a CAPES são alocadas aos alunos com melhor desempenho acadêmico. Pode ser que existam projetos de pesquisa com bolsas DTI, estas são interessantes. Em algumas instituições existem bolsas de Indústrias, neste caso verifique quanto de seu tempo poderá ser dedicado á pesquisa e se o compromisso assumido com o patrocinador é compatível com suas expectativas.

Em muitos locais há listas de discussão de alunos para a troca de experiências sobre a vida naquela cidade. procure estes recursos, experimente o Google para achar referências, mas sempre tenha cuidado com a sua segurança. Obtenha informação de pessoas conhecidas, verifique se estas pessoas têm CV Lattes e que outras informações existem na Web.  

Finalmente a terceira questão, que é o título desta crônica, é com quem? Quem será o seu orientador? Um orientador é peça essencial para uma boa pós. Não espere encontrar um orientador paizinho, este não é o papel do orientador. Um orientador deve ter boa produção na área em que você está interessado e deve ser capaz de orientar os alunos. A palavra orientar diz tudo: dar a orientação, a direção. Para isto experiência de pesquisa é importante. Você é que vai fazer o trabalho, acho que todos conhecem a expressão: “A criatividade é feita de 10% de inspiração e de 90% de transpiração”, o orientador será de uma ajuda fenomenal nos 10%, a transpiração é por conta de vocês. Entretanto deve ser analisada a proposta de pesquisa do grupo em que você está interessado, além disto é importante que você consiga estabelecer um bom relacionamento pessoal com seu orientador. Este fator é bastante difícil de avaliar antes de conhecer bem o grupo de pesquisa e seu estilo de trabalho. Uma forma de tentar ter esta visão é contatar ex-alunos e conhecidos no grupo.

A seguir, para avaliar os orientadores do ponto de vista acadêmico, a próxima atividade é buscar o CV Lattes dos prováveis orientadores e analisá-los. Abaixo a tradicional lista de itens a serem considerados:

Dedicação do orientador às atividades de ensino, pesquisa e orientação.

  • O professor trabalha em tempo integral no ensino/pesquisa?

Verifique se o número de orientandos é compatível com o tempo de doutoramento do orientador

  • Não se esqueça que pequenos grupos de pesquisa costumam ter menos alunos por orientador.

Verifique no Google Acadêmico as publicações dos prováveis orientadores

  • Compare com o CV Lattes, a vantagem do Google Acadêmico é que na listagem aparecem as citações às publicações o que é um fator importante para a avaliação da qualidade dos trabalhos.

Procure por uma homepage do orientador e do grupo de pesquisa

  • Uma boa página deve apresentar, no mínimo, as publicações mais recentes ou mais importantes, os projetos de pesquisa do orientado ou do grupo e uma lista de alunos orientados.

Mande um mail para os orientadores em perspectiva

  • Mande uma mensagem curta, objetiva explicando porque você é importante para os projetos daquele pesquisador em particular. Mesmo os mais ocupados responderão se sentirem responsabilidade e a oportunidade de ter um bom aluno.

Agora você tem todas as informações necessárias para uma decisão séria. Pese cada um dos fatores envolvidos e tente ser aceito na melhor Instituição e com melhor orientador possível. Comece o processo de escolha e de troca de mensagens com meses de antecedência, os bons orientadores normalmente são pessoas ocupadas que dificilmente estarão dispostas a gastar um tempo precioso na véspera das submissões de candidaturas. 

Não mande “cartas circulares” iguais para inúmeros orientadores, quando recebo este tipo de mensagem as considero spam… Apesar de nosso grupo de pesquisa ter um bom site com a lista de nossos projetos e com um resumo das publicações mais recentes é comum receber mensagens do tipo: “o Sr. têm alguma ideia para meu mestrado?” ou mesmo para trabalhos de diplomação. O que vocês imaginam que um professor pensa de um candidato que não se deu nem ao trabalho de procurar um tema que poderia ser de interesse do orientador? 

Você tem que “se vender” mostrando suas qualidades, deve mostrar competência e seriedade. Se for possível, monte uma homepage séria, isto é o equivalente aos books das modelos, com sua produção, trabalhos etc. Cuidado com o seu perfil do Orkut, ele mostra a sua personalidade! Não se esqueça que o CV Lattes deve estar absolutamente atualizado, esta será a primeira verificação que o orientador fará, um candidato a mestrado e, pior, a doutorado sem um Lattes começa em desvantagem. Cuide da qualidade dos textos enviados ao futuro orientador, estes são seu cartão de apresentação, um texto com português horrível lhe garantirá a exclusão do processo. Lembre-se tudo o que você fez na sua vida acadêmica deve ter valor para o processo de seleção, procure demonstrar isto. 

Finalmente se durante a graduação você não acumulou pontos para garantir o seu ingresso na pós, está na hora de começar, procure um curso de especialização na sua área (em uma instituição que tenha bons grupos de pesquisa) e oriente seu estudo para a área desejada. Faça um trabalho de conclusão acadêmico e tente publicar. Se você tem ampla experiência profissional então deve transformar esta experiência em resultados acadêmicos, projetos conjuntos com grupos de pesquisa são outra boa alternativa. A pesquisa, como os esportes de competição,  é muito desafiadora e necessita de uma boa preparação.  

Boa sorte!


Cuidados a serem tomados:

  • Se algum orientador aceitar um aluno só pelo interesse do aluno e não com base em suas pesquisas e projetos atuais ou este orientador é “uma mãe brasileira” que não sabe dizer não ou está com falta de candidatos.
  • Se uma Universidade o aceitar somente por um e-mail dizendo que a real seleção é realizada durante o cursos há um forte risco de você entrar em uma fria, um programa de qualidade se preocupa muito com os ingressantes.
  • Os cursos denominados MBA – Master of Business Administration, apesar do nome são cursos de especialização em Administração.
  • Não confie em ninguém ou instituição em outra cidade sem uma verificação cuidadosa de sua idoneidade.
  • Seja honesto (fair) com os orientadores, se mudar de decisão avise com a maior antecedência possível, não tente enganar o programa e o orientador com promessa de matrícula para garantir eventual situação, seja franco. Caso contrário estará prejudicando outros candidatos que podem perder a oportunidade.