Saúde mental de professores

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A pressão pelo publish or perish tornou-se um dos elementos mais nocivos da vida universitária contemporânea. O que antes era apresentado como estímulo à produtividade científica transformou-se em um mecanismo de desgaste que compromete a saúde mental de professores e estudantes. Pesquisas internacionais indicam que quase metade dos acadêmicos cogitou abandonar a carreira a curto prazo, ao passo que apenas uma minoria afirma ter acesso a serviços institucionais adequados de apoio psicológico. Isso revela uma contradição grave: as universidades, que deveriam ser espaços de formação, criatividade e inovação, muitas vezes se convertem em ambientes de ansiedade permanente.

A raiz do problema é estrutural. Instituições competem por indicadores, número de artigos publicados, novos alunos matriculados, posições em rankings internacionais e, para alcançá-los, transferem a pressão diretamente para docentes e discentes. Assim, perpetua-se uma lógica perversa: quem se formou em um sistema que associava valor acadêmico quase exclusivamente à publicação de artigos reproduz essa cobrança sobre a nova geração. O resultado é uma “corrida armamentista” de publicações, em que quantidade se sobrepõe a qualidade e a diversidade de contribuições acadêmicas.

Nesse contexto, discutir saúde mental é indispensável, mas insuficiente. Relatórios recentes evidenciam que o medo de ser visto como frágil ou de comprometer a própria carreira impede muitos acadêmicos de buscar ajuda, ainda que sofram de exaustão. Mais de 70% dos docentes entrevistados em determinados estudos acreditam que recorrer a serviços de apoio poderia prejudicar sua trajetória. Esse silêncio forçado amplia a sobrecarga e naturaliza a ideia de que a dedicação sem limites é a única forma legítima de sucesso na carreira.

O desafio, portanto, vai além de criar políticas de apoio psicológico ou flexibilizar rotinas de trabalho. Trata-se de uma questão estrutural que exige repensar profundamente os critérios de reconhecimento e avaliação acadêmica. A noção de produtividade não pode continuar sendo reduzida à mera contagem de publicações, como se a relevância de um pesquisador pudesse ser medida exclusivamente pelo número de artigos acumulados em bases de dados internacionais. Tal visão simplista ignora a complexidade do fazer científico e marginaliza contribuições igualmente essenciais para o avanço do conhecimento.

É preciso reconhecer que a formação de novos pesquisadores, a qualidade do ensino ministrado em sala de aula, o impacto social e cultural dos projetos desenvolvidos, bem como a criação de ambientes institucionais colaborativos e saudáveis, constituem dimensões fundamentais da vida acadêmica. Esses aspectos, no entanto, permanecem em segundo plano nos mecanismos formais de avaliação, sendo frequentemente mencionados em discursos institucionais, mas raramente valorizados de forma efetiva nos processos de progressão de carreira, concessão de recursos ou reconhecimento público.

Uma mudança real requer coragem para enfrentar a cultura estabelecida e admitir que indicadores quantitativos, embora úteis em determinadas circunstâncias, não dão conta de medir a pluralidade de papéis desempenhados pela universidade. A ciência de qualidade exige tempo, reflexão, criatividade e cooperação, elementos que não se traduzem facilmente em métricas numéricas. Se quisermos construir uma academia sustentável e capaz de atrair e reter talentos, será indispensável equilibrar a valorização da produção científica com o reconhecimento de outros contributos igualmente relevantes.

Sem essa transformação profunda, a academia continuará afastando talentos em vez de cultivá-los. Manter jovens pesquisadores engajados, motivados e saudáveis depende de uma mudança cultural que reconheça que ciência de qualidade exige tempo, reflexão e cooperação e não apenas produtividade medida em números.

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