Há um quadro célebre de Joseph Wright de Derby, pintado em 1768, intitulado An Experiment on a Bird in the Air Pump. Nele, um cientista conduz uma experiência simples, observada com espanto por um grupo de pessoas comuns: mulheres, crianças, curiosos, todos partilhando o mesmo espaço de fascinação. A luz da vela ilumina o ambiente como metáfora da razão que se expande. A ciência, naquele tempo, podia ser vista, compreendida e sentida; era um espetáculo público, e o cientista, mais do que um especialista, era um mediador entre o mistério e o entendimento.
Hoje, a cena é bem diferente. As experiências ocorrem em túneis de quilômetros, controladas por equipes multinacionais, interpretadas por algoritmos e equações que poucos compreendem. O acelerador do CERN é o símbolo dessa nova era: um monumento à complexidade. Para o público, porém, ele é quase um mito, algo grandioso, mas inalcançável.
Alguns críticos veem nisso uma suposta vaidade dos cientistas e professores, como se estivéssemos encantados com nossa própria imagem, num reflexo narcísico de erudição. Mas essa é uma leitura deformada, um erro de perspectiva. Não é o espelho que nos fascina; é o abismo do desconhecido que se aprofunda. O que separa o público da ciência hoje não é o narcisismo de quem ensina, mas o salto gigantesco que o conhecimento deu, exigindo anos de formação somente para compreender o ponto de partida.
Richard Feynman dizia: “Se você pensa que entendeu a mecânica quântica, você não entendeu nada.” Essa frase revela o núcleo do problema: a ciência moderna não é inacessível por culpa dos cientistas, mas porque a própria natureza da realidade que investigamos se tornou mais abstrata, menos intuitiva, mais distante da experiência cotidiana.
O desafio do professor, portanto, não é vencer o espelho de Narciso, mas reconstruir pontes, transformar a linguagem árida da ciência em uma nova forma de encantamento. Precisamos recuperar algo do espírito daquele quadro iluminado à vela: não para simplificar o complexo, mas para renovar a possibilidade de maravilhar-se com o que ainda não se entende.
O verdadeiro papel do mestre continua sendo o mesmo: fazer a luz brilhar, mesmo quando o mundo ao redor já não consegue enxergar o que ela revela.



