Por: José Palazzo Moreira de Oliveira
Clesio Saraiva dos Santos, como muitos estudantes de engenharia e engenheiros iniciou seus trabalhos na área de Ciência da Computação desenvolvendo um sistema de cálculo estrutural para o programa de pós-graduação em Engenharia Civil da UFRGS. Meu primeiro encontro com ele foi neste período eu ministrava a disciplina de Geometria Analítica da Escola de Engenharia e ele era bolsista do projeto, ainda me lembro de nossa primeira discussão na entrada do prédio novo da Escola de Engenharia: política, naquela época esta era uma área muito perigosa, mas aqui não entrarei em detalhes. Continuamos, ao longo dos anos, este intelectualmente criativo debate, muitas vezes alternado as posições sobre determinados fatos, ora ele estava mais à direita ora mais à esquerda. Realmente aproveitamos muito esta longa interação. Em 1970 Clesio diplomou-se em Engenharia Civil e passou a trabalhar no CPD sob a direção do Professor Manoel Leão. Eu me converti, em 1973, da Engenharia e da Física, onde fazia instrumentação nuclear, para a Computação. Neste período Clesio acabava de retornar do mestrado na PUC do Rio tendo definida a sua área de interesse em estruturas de dados e bancos de dados, tendo com seu orientador o Prof. Antônio Luz Furtado, um dos pioneiros em BD no Brasil acadêmico. Uma de suas primeiras publicações foi “A Data Type Approach To The Entity Relationship Model” na First International Conference on the Entity-Relationship Approach – ER ’79. No ano de 2009 tive a satisfação de ser o coordenado geral do ER ’09 realizado em Gramado tendo o Prof. Furtado como um dos key-note da Conferência, pena que o Clesio não mais está aqui. Naquele período, final dos 70’s, iniciamos o grupo de Banco de Dados com o nosso inesquecível José M. V. de Castilho e com a participação de Carlos A. Heuser, Roberto T. Price, Mauricio Tazza, Lia Golendziner e José Palazzo M. de OLiveira. Um dos projetos que marcou época na vida do grupo foi o desenvolvimento de um sistema de gerência de banco de dados em projeto com apoio da Alemanha, o LOBAN. Nesta época o Clesio estava fazendo o doutorado na PUC do Rio e em suas vindas a Porto Alegre discutimos bastante sobre o projeto. Em 1980 terminou seu doutorado e retornou para a UFRGS. Com o retorno dos primeiros doutores começou uma nova fase em nosso grupo, pouco a pouco os demais membros foram obtendo seu doutorado. O Clesio sempre foi um referencial científico, após longas discussões, do que gosto muito, quando ele chegava a uma conclusão era bom parar, pois estava 99% das vezes certo. Isto com aquela tranquilidade, ao menos externa, que apresentava sempre.
Depois o Clesio encontrou sua vocação pela administração acadêmica: chefe da Divisão Acadêmica do CPD, diretor do CPD, diretor do Instituto de Informática. Eu fiquei um pouco triste com esta decisão, pois isto implicou em um afastamento da pesquisa. Por outro lado seu equilíbrio em complicadas questões políticas rendeu uma posição de destaque que deu uma boa visibilidade e reputação para o Instituto.
Além de sócio-fundador da SBC, foi seu Vice-Presidente (1985 a 1986) e Presidente (1989 a 1991). Foi Conselheiro da SBC em três períodos: 1981-1985, 1987-1989 e 1991-1995 e membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Computação (1981-1983), antecessora do atual JBCS. Junto ao MEC, foi Membro da Comissão de Consultores de Informática da CAPES em dois períodos: 1980-1982 e 1985-1987. Entre 1980 e 1982 participou na CAPES da primeira comissão de consultores de Informática, que criou o primeiro sistema de avaliação da área de Ciência da Computação, junto aos professores José Carlos Pereira de Lucena, Jayme Luiz Szwarcfiter e Ivan Moura Campos. Foi membro do Comitê Assessor de Ciência da Computação do CNPq, entre 1983 e 1984. Foi membro da Comissão de Informática da SESu/MEC, em 1985. Foi membro da Comissão de Especialistas em Informática do MEC, entre 1986 e 1988 e participou ativamente do processo de avaliação da pós-graduação em Computação no Brasil como Presidente de área de Informática da CAPES, entre 1989 e 1990. Apesar de sua longa atividade administrativa, ele acreditava que as pessoas deveriam apresentar um comportamento acima da realidade brasileira, ou de nossa política. Acreditava que um pesquisador deve ser avaliado pelo conjunto de sua obra.
É com profundo pesar que senti o falecimento prematuro do Clesio. Foi um amigo, colega e alguém que muito contribuiu para criar e moldar nossa instituição, querido por toda nossa comunidade.