Em um artigo [1] encontramos esta análise:
We show that the reproduction rate in academia is very high. For example, in engineering, a professor in the US graduates 7.8 new PhDs during his/her whole career on average, and only one of these graduates can replace the professor’s position. This implies that in a steady state, only 12.8% of PhD graduates can attain academic positions in the USA.
São dados de 2014, mas com a reconhecida crise nas universidades não deve ter sofrido uma mudança radical, ainda mais que são dados acumulados de toda uma vida de formação. Certamente atualmente a situação não é muito diferente aqui no Brasil. Vamos analisar um pouco a situação, antiga e atual. Minhas orientações estão acima destes valores, até agora foram 23 doutorandos, e a maioria está atuando, ou atuou, na Academia. Mas isso foi decorrência da nossa história na formação de profissionais em Computação. Quando retornei de meu doutorado éramos uns 60 doutores em Computação no Brasil e tínhamos poucos programas de pós-graduação e nenhum de graduação plena. O ambiente se desenvolveu e estamos atualmente com uma ampla oferta de vagas ociosas.
O MEC – Ministério da Educação divulgou nesta terça-feira (10/10/2023) um retrato do ensino superior no Brasil. Quase 80% dos jovens de 18 a 24 anos não estão na faculdade; 32,3% sequer concluíram o ensino médio. O Censo do Ensino Superior mostra que havia quase 23 milhões de vagas disponíveis em 2022, mas apenas 4,7 milhões foram preenchidas. Nas instituições particulares, sobram mais de 80% das vagas. Nas públicas, as vagas ociosas chegam a quase 40%.
Já havia tratado do assunto em post anterior. Não há nenhuma perspectiva de que a situação mude, então não é mais possível que continuemos pensando nos mestrados e doutorados com formadores de pessoal para o ensino superior.
A academia enfrenta atualmente um desafio significativo relacionado à taxa de reprodução de professores, especialmente visível em disciplinas como engenharia. Em muitos casos, um professor pode orientar mais de 10 doutorandos ao longo de sua carreira, mas apenas uma fração desses graduados consegue ocupar um cargo acadêmico. Este professor pode ser substituído por um novo doutor. Esse cenário implica que, em um estado estacionário, apenas aproximadamente 10% dos doutorandos conseguem alcançar posições como professores.
A complexidade dessa questão é agravada pela evolução do ambiente acadêmico, que atualmente enfrenta uma oferta considerável de vagas ociosas nas universidades. Contrariamente às expectativas, não há previsão para um aumento radical no número de professores; ao contrário, observa-se uma tendência preocupante de demissões em instituições de ensino privadas.
Essa conjuntura sugere que o atual modelo de ensino superior está à beira de uma crise. A necessidade de reformulação é imperativa, e alternativas devem ser exploradas para enfrentar essa realidade. Em vez de adotar uma postura passiva diante desse cenário desafiador, é crucial buscar soluções proativas e sustentáveis.
Primeiramente, é vital reconhecer que a abordagem tradicional de formação de professores precisa ser revista. Um maior investimento em programas de orientação e mentorias, bem como uma reavaliação das práticas de recrutamento, podem ser passos importantes. Além disso, é fundamental incentivar a colaboração entre instituições acadêmicas e a indústria, proporcionando aos doutorandos oportunidades de pesquisa e desenvolvimento fora do ambiente puramente acadêmico. A adoção de tecnologias educacionais inovadoras pode desempenhar um papel crucial na otimização do ensino superior.
A colaboração estreita entre instituições acadêmicas e a indústria emerge como uma alternativa promissora para lidar com os desafios crescentes no sistema de ensino superior. Ao incentivar essa sinergia, é possível não apenas enriquecer as experiências dos doutorandos, mas também alinhar mais diretamente os objetivos acadêmicos com as necessidades práticas da indústria.
Uma abordagem estratégica envolve a criação de parcerias colaborativas entre universidades e empresas, permitindo que doutorandos realizem pesquisas e desenvolvam projetos diretamente relevantes para os desafios enfrentados pela indústria. Essa interação proporciona uma visão prática e aplicada, além de garantir que as habilidades e conhecimentos adquiridos durante a pós-graduação sejam altamente aplicáveis no ambiente profissional.
Ao direcionar a pós-graduação para a formação de pessoal de alto nível para a indústria, é possível alinhar melhor as expectativas e requisitos do mercado de trabalho com os programas acadêmicos. Isso não apenas aumenta a empregabilidade dos doutorandos, mas também contribui para o avanço tecnológico e inovação na indústria.
Além disso, a exposição dos doutorandos a ambientes de pesquisa e desenvolvimento fora do ambiente puramente acadêmico proporciona uma compreensão mais holística dos desafios enfrentados pela indústria. Essa experiência prática pode estimular o surgimento de soluções inovadoras e promover uma abordagem mais ágil e adaptativa na resolução de problemas.
Essa abordagem também beneficia as empresas, com acesso direto a talentos altamente qualificados e a pesquisas de ponta. A colaboração entre academia e indústria não só impulsiona a inovação, mas também fortalece os laços entre esses dois setores, promovendo um intercâmbio contínuo de conhecimento e especialização.
Além disso, ao focar na formação de pessoal de alto nível para a indústria, a pós-graduação assume um papel mais proativo na preparação dos estudantes para os desafios do mundo real. Isso pode envolver a integração de estágios práticos, participação em projetos colaborativos e a inclusão de profissionais da indústria como mentores ou palestrantes convidados.
Em última análise, ao incentivar a colaboração entre instituições acadêmicas e a indústria e ao orientar a pós-graduação para atender às demandas específicas do setor, é possível criar um ambiente educacional mais dinâmico, aplicado e relevante. Essa abordagem não apenas enfrenta os desafios atuais na academia, mas também contribui para o fortalecimento da relação entre educação superior e setor produtivo, resultando em benefícios tanto para os estudantes quanto para a sociedade na totalidade.
O planejamento para o futuro das universidades deve envolver uma reflexão profunda sobre como garantir a sustentabilidade do ensino superior nas próximas décadas. Isso inclui a consideração de estratégias de financiamento, modelos de colaboração entre instituições e setores, bem como o desenvolvimento de programas de capacitação para professores que os preparem para desafios emergentes.
Em suma, a crise iminente no modelo atual de ensino superior exige ação imediata e uma abordagem visionária. A busca por alternativas inovadoras e a adaptação às mudanças no ambiente acadêmico são essenciais para garantir a relevância e a eficácia das universidades no futuro.
[1] Larson RC, Ghaffarzadegan N, Xue Y. Too Many PhD Graduates or Too Few Academic Job Openings: The Basic Reproductive Number R0 in Academia. Syst Res Behav Sci. 2014 Nov-Dec;31(6):745-750. doi: 10.1002/sres.2210. PMID: 25642132; PMCID: PMC4309283.
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