30 anos do Doutorado em Informática na Educação – UFRGS

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Lá pelos anos 90, iniciou uma história que pouca gente conhece direito, mas que hoje merece ser contada. Era um tempo em que todo mundo falava de interdisciplinaridade como se fosse a solução para todos os problemas da academia — e, de certa forma, ainda é. Só que fazer isso acontecer de verdade, no dia a dia, não é nada fácil. Especialmente quando se tenta unir áreas que, até então, pareciam falar línguas diferentes. Hoje comemoramos 30 anos da criação do Doutorado em Informática na Educação da UFRGS.

A ideia era juntar informática com educação — duas áreas que não costumavam se cruzar muito. De um lado, gente que mexia com computadores, códigos e sistemas. Do outro, profissionais acostumados a pensar no ser humano, no aprendizado, na escola. Unir esses dois mundos exigia mais do que boa vontade: era preciso paciência, escuta e, acima de tudo, respeito.

Naquela época, já havia algumas iniciativas na universidade. Um grupo aqui, outro ali, cada um tentando fazer sua parte. Mas ainda faltava algo que realmente amarrasse essas experiências e desse um sentido coletivo ao esforço. Foi aí que surgiu a proposta de criar um programa de pós-graduação voltado especificamente para a informática na educação. Participei deste projeto com o apoio no Instituto de Informática e, mais tarde, como membro e vice-presidente da Câmara de Pós-graduação.

No começo, ninguém sabia muito bem como isso ia funcionar. Não havia um lugar fixo, tudo era meio improvisado. As reuniões aconteciam onde desse, os papéis iam e voltavam no porta-malas de um automóvel, e as ideias surgiam entre um cafezinho e outro. Era tudo meio artesanal — como são quase todas as coisas importantes no início.

A principal dificuldade era fazer com que as pessoas das diferentes áreas confiassem umas nas outras. Ainda havia muito preconceito, muita dúvida sobre o que, afinal, aquele pessoal da informática podia contribuir com a educação. Mas, gradualmente, com diálogo e algum esforço coletivo, a coisa foi andando. Gente de várias áreas se reuniu, discutiu e apostou que dava para construir algo novo — algo que fosse além das fronteiras tradicionais do saber.

Decidiram então que o curso começaria direto no doutorado. A proposta era ousada, e o compromisso com a integração entre as áreas ficou logo evidente: cada estudante teria dois orientadores, um de cada campo do conhecimento. E assim, com coragem e alguma teimosia, o programa nasceu.

Nos primeiros tempos, tudo era novidade. Havia poucos recursos, mas muita vontade. As aulas aconteciam onde fosse possível, o material era compartilhado como dava, e os professores dividiam o tempo entre outras atividades e o novo desafio. Mesmo sem estrutura ideal, a paixão de quem acreditava na proposta fazia as coisas acontecerem.

Com o passar do tempo, os frutos começaram a aparecer. O programa cresceu, ganhou reconhecimento e formou muita gente boa — profissionais que hoje estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo, levando adiante a ideia de que tecnologia e educação podem caminhar juntas, com propósito e sensibilidade.

Hoje, passadas três décadas, dá pra olhar pra trás com orgulho. Não foi fácil. Mas quem participou desde o começo sabe o valor de cada pequena conquista. O que começou como uma aposta, uma ideia meio incerta, se tornou um espaço fértil de criação, pesquisa e transformação.

E o mais bonito é perceber que, apesar das dificuldades, o espírito inicial ainda está vivo: o de quem acredita que conhecimento se constrói junto, de forma aberta, sem medo de cruzar fronteiras. Afinal, é assim que a educação realmente muda — quando diferentes olhares se encontram para construir algo maior do que cada um conseguiria sozinho.

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