É uma tarde nublada, não típica de uma primavera no sul que insiste em prolongar sua presença. Eu estou sentado em minha escrivaninha, folheando pilhas de papéis repletos de projetos e artigos, quando me dei conta de que algo urgente precisava ser dito sobre a nossa profissão, algo que transcende o mero ofício de ensinar e pesquisar.
Num devaneio, comecei a refletir sobre a ideia equivocada de que ser professor ou pesquisador é uma espécie de missão religiosa, um chamado divino que nos impele a dedicar nossas vidas ao saber. Não, não é uma missão religiosa. É, sim, uma forma de trabalho, um trabalho árduo, intelectualmente desafiador e, muitas vezes, subestimado.
Quase sai da peça quando me deparei com a questão das avaliações de projetos. A ironia de instituições que cobram altas mensalidades de seus alunos, mas que, paradoxalmente, esperam que nós, professores e pesquisadores, forneçamos avaliações gratuitas de projetos, não passou despercebida. Essa é uma apropriação indevida do nosso trabalho, um desrespeito à dedicação e à competência que investimos em cada avaliação.
O dilema atinge seu máximo quando editoras, que lucram com a venda de livros e artigos, recebem contribuições baseadas em projetos financiados por entidades governamentais ou outras instituições, sem sequer oferecer uma compensação justa. É como se a nossa paixão pelo conhecimento pudesse ser explorada sem medida, como se o amor pelo saber pudesse ser convertido em moeda de troca, sem ao menos um reconhecimento financeiro pelo nosso esforço.
Mas, o exemplo local mais flagrante dessa desvalorização é a atuação das fundações estaduais, que, em projetos multimilionários, solicitam avaliações meticulosas. Sob a defesa do sigilo e com ameaças de ações legais, somos convocados a analisar complexidades, a oferecer percepções valiosas, enquanto as remunerações propostas mal ultrapassam alguns reais por hora de trabalho. A discrepância entre a magnitude do projeto e a compensação oferecida é simplesmente revoltante.
Então, nesse momento de reflexão, decidi que era hora de não mais aceitar passivamente esse tipo de solicitação. Era hora de erguer a voz, de deixar claro que o nosso trabalho é valioso, é digno de reconhecimento e remuneração justa. Como professores e pesquisadores, devemos nos unir em uma frente comum para afirmar que somos profissionais que merecem ser valorizados, não apenas pelos nossos conhecimentos, mas também pelo tempo e pela dedicação que investimos.
Que esse manifesto sirva como um despertar para todos nós, uma chamada para a ação em defesa de uma educação e pesquisa justas, onde o trabalho intelectual seja adequadamente valorizado. Afinal, somos os arquitetos do conhecimento, e é mais do que justo que sejamos recompensados conforme a importância do nosso labor.
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