Sempre insisto na necessidade de uma tese ou dissertação ser algo denso e consistente. Sempre dizia que um trabalho acadêmico, nas exatas, não é um romance ou trabalho literário, pelo visto estava enganado pois o trabalho literário deve seguir o mesmo caminho de concisão. Lendo as memórias de um grande escritor encontrei este trecho! Concordo plenamente e sugiro que os alunos leiam cuidadosamente e apliquem este conhecimento a seus textos.
STEFAN ZWEIG – O mundo que eu vi (memórias)
Essa aversão a tudo que é prolixo e a tudo que é de largo fôlego, necessariamente teve que se transmitir da leitura de obras alheias à elaboração de minhas próprias e educar-me para um cuidado especial. Escrevo com facilidade e fluência, na primeira redação de unia obra deixo a pena ir correndo e vou dizendo o que me ocorre à mente. Numa obra biográfica utilizo a princípio todos os pormenores documentários de que disponho; numa biografia como “Maria Antonieta” de fato examinei todas as contas a fim de verificar as despesas pessoais dessa rainha, estudei todos os jornais e panfletos da época, todos os autos do processo até a última linha. Na obra pronta não se encontra uma linha de tudo isso, pois apenas a primeira redação de um livro está passada a limpo, começa para mim o verdadeiro trabalho, o de condensar e compor, trabalho em que depois de cada correção ainda acho que o que fiz foi pouco. É um incessante lançar lastro ao mar, um constante condensar e clarificar da obra; ao passo que a maioria dos outros escritores não podem resolver-se a silenciar alguma coisa que sabem, e com certa paixão em cada linha bem sucedida querem mostrar conhecimentos mais amplos e mais profundos do que verdadeiramente são os seus, a minha ambição é sempre saber mais do que aquilo que apresento nas obras.
Esse processo da condensação e, com isso, de dramatização repete-se depois uma, duas e três vezes nas provas tipográficas. Encontrar ainda uma frase ou apenas uma palavra cuja retirada não diminui a precisão e aumenta e interesse do leitor, torna-se afinal uma espécie de caça agradável, No meu trabalho, o de eliminar é verdadeiramente o que maior prazer me dá. Lembro-me de uma vez em que, tendo-me eu levantado muito satisfeito da mesa de trabalho, minha esposa me disse que parecia nesse dia haver eu logrado algo de extraordinário e lhe respondi orgulhoso: “Sim, logrei riscar mais um parágrafo inteiro e com isso obter uma transição mais rápida”. A velocidade arrebatadora de meus livros, que às vezes é elogiada, não se origina absolutamente de uma impetuosidade natural ou de um estado de excitação, mas sim do método sistemático da constante eliminação de todas as pausas e ruídos acessórios supérfluos, e, se conheço em mim uma espécie de arte, é a de poder renunciar, pois não lastimo quando de mil páginas escritas oitocentas vão para a cesta de papeis e ao ficam duzentas que representam a essência.
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