Formar doutorandos para serem pensadores e não apenas especialistas

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Um artigo publicado na CACM, Train PhD students to be thinkers not just specialists (Bosh 2018) salienta o problema de os estudantes de doutorado necessitarem retornar ao estudo dos aspectos mais abstratos e rigorosos da Ciência. No artigo é citada a atual situação em muitos cursos na área biomédica, mas a situação se aplica em todas as áreas de conhecimento:

Under pressure to turn out productive lab members quickly, many PhD programs in the biomedical sciences have shortened their courses, squeezing out opportunities for putting research into its wider context. Consequently, most PhD curricula are unlikely to nurture the big thinkers and creative problem-solvers that society needs. [1]

É verdade que a pressão por produtividade e publicações pode levar muitos programas de doutorado a encurtar seus cursos e a se concentrar apenas na pesquisa técnica. No entanto, isso pode ser contraproducente, pois restringe as oportunidades para colocar a pesquisa em um contexto mais amplo e pode limitar a capacidade dos alunos de desenvolver habilidades críticas de pensamento e resolução de problemas.

O mais interessante é que esta percepção está se desenvolvendo, já a algum tempo, a partir das áreas ligadas à saúde (Baldwin 2014) (Bosh 2018) (Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health 2018), isso caracteriza o fato de que a percepção da realidade ter profundas implicações nas consequências éticas e de responsabilidade humana dos doutorandos.

Os programas de doutorado devem procurar encontrar um equilíbrio entre a produção de pesquisas e a formação de estudantes que sejam capazes de pensar criticamente, comunicar efetivamente e solucionar problemas complexos. Isso pode incluir a inclusão de cursos em ciências sociais, ética e política científica, além de treinamento em comunicação e liderança.

Além disso, as instituições acadêmicas devem valorizar a excelência acadêmica e a inovação, em vez de apenas a quantidade de publicações. Isso permitiria que os alunos se concentrassem na qualidade de sua pesquisa, em vez de apenas na quantidade, permitindo-lhes desenvolver sua capacidade de resolver problemas complexos e criar soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela sociedade. É importante discutir a responsabilidade social dos cientistas e a ética na pesquisa científica. Isso envolve não apenas a conduta ética na pesquisa, mas também a consideração dos impactos sociais e ambientais de suas descobertas e como elas podem ser aplicadas para melhorar a vida das pessoas e proteger o meio ambiente.

Outros tópicos importantes a serem discutidos incluem a importância da diversidade e inclusão na ciência, bem como o papel da ciência na tomada de decisões políticas e a comunicação científica com o público. Essas discussões e habilidades são essenciais para preparar os alunos para uma carreira de sucesso na ciência, bem como para garantir que a ciência seja realizada de forma responsável e benéfica para a sociedade.

Bibliografia

  • Baldwin, Adele . “Putting the philosophy into PhD.” Working Papers in the Health Sciences, ISSN 2051-6266/20150063, 2014.
  • Bosh, Gundula. “Train PhD students to be thinkers not just specialists.” Nature, 14 Feb. 2018: 277.
  • Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health . Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health . 01 de 2018. https://publichealth.jhu.edu/2018/perspective-lets-put-the-ph-back-in-science-phd-programs (acesso em 02 de 06 de 2022).

[1] Sob pressão para ter membros de laboratório rapidamente produtivos, muitos programas de doutorado em ciências biomédicas encurtaram seus cursos, restringindo as oportunidades para colocar a pesquisa em um contexto mais amplo. Consequentemente, é improvável que a maioria dos currículos de doutorado nutra os grandes pensadores e solucionadores de problemas criativos de que a sociedade precisa.