Com a crise pela qual estamos passando com a redução dos investimentos em pesquisa, valores muito baixos para as bolsas de pós-graduação nas áreas tecnológicas, falta de alunos de doutorado e candidatos ao pós-doutorado, precisamos pensar em alternativas. Vou alinhavar alguns pensamentos para estimular o debate nos programas sobre alternativas.
- A avaliação tradicional sobre a produtividade dos pesquisadores é baseada na produção bibliográfica, na inserção internacional com a coordenação e participação em projetos, na formação de recursos humanos de alto nível. Aqui temos problemas:
- A produção bibliográfica depende muito das orientações de doutorado e pós-doutorado devidamente financiados. Leiam este texto publicado na Science (https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abq7056):
“An interesting paper has been recently published in Science Advances by Aaron Clauset and co-workers who analyzed the determinants of scientific productivity for faculty at elite institutions. They found that the main factor that explains the enhanced productivity of faculty at prestigious institutions is the increased availability of funded graduate and postdoctoral labor. Thus the increased productivity of star scientists would be mainly the result of the surplus value extracted from the work of grad. students and postdocs”.
A leitura de todo o artigo mostra o grave problema que enfrentamos: as instituições de ponta têm uma alta produtividade por serem de ponta e conseguirem mais candidatos e mais recursos para os financiar. Nós não temos a cultura e os recursos para atrair os melhores alunos nem os recursos para oferecer financiamentos compatíveis com as necessidades de vida.
- Uma solução é a instituição de fundos patrimoniais ligados às Universidades (fundações?) que recebem recursos de ex-alunos bem sucedidos, de empresas da área e de mecenas que, felizmente, estão começando a surgir. Pelo menos aqui no RS tivemos grandes doações para hospitais.
- Outra linha de trabalho é a participação em publicações (decorrência de projetos) com parceiros internacionais. Isso apoia, também, o item de inserção internacional, mas é dependente de fonte de financiamento.
- Para a inserção internacional o limitado apoio a projetos que englobem mais países
- Me parece que a solução é procurar fontes de financiamento internacionais. Isso permitirá a participação em projetos e talvez a coordenação nacional ou regional de alguma atividade, ou mesmo projeto.
- Quanto a formação de recursos humanos de alto nível, deparamos com a falta de estímulo, pelo menos na Computação, para jovens encararem um mestrado e doutorado. Tratei desse problema em outro texto: Demografia, bolsas e crise na pós onde deixo bem claro o problema e sugiro a necessidade de uma profunda reformulação no modelo de ensino e pesquisa.
- Talvez a solução seja aumentar a integração com instituições externas à Universidade, conseguindo financiamento específico para certos temas. A UFAM tem um case exemplar na área legal: “UFAM/Jusbrasil Postdoctoral Fellowship Intelligent Methods for Lawtech”.
- Outro ponto a ser considerado é enfrentar o problema que seria possível desenvolver mestrados em tempo parcial com associação às empresas para a resolução de problemas complexos.
- Outra alternativa, e esta é uma atividade de longo prazo, é a criação de escolas na área de pesquisa do grupo. Os alunos que participam ficam conhecendo os desafios, oportunidades e pesquisadores. Tenho colegas que conseguiram, depois de muitos anos de esforços, construir belas equipes de pesquisa.
Para concluir quero tratar de um ponto crítico: no Brasil se deixou de pensar em julgamentos sobre a qualidade intrínseca do trabalho e das possibilidades de crescimento e se passou a realizar avaliações pela contagem de pontinhos. Isso ocorre nos concursos, nas progressões internas nas Universidades e em rankings por QUALIS. Felizmente o CA-CC do CNPq tem realizado avaliações bem mais globais considerando as áreas dos pesquisadores e as múltiplas dimensões de suas carreiras. Infelizmente a avaliação multidimensional proposta pela CAPES não evoluiu, só aumentou o volume absurdo de dados a serem coletados e carregados no Sucupira. Em 2020 apresentei uma palestra aqui na UFRGS sobre o assunto, ali mostro a diferença entre bibliometria e avaliação de qualidade.
Minha conclusão, principalmente para os novos pesquisadores: não há solução fácil, será precisa muita dedicação e esforço para atingir uma boa produção e um trabalho de qualidade. O importante é um trabalho consistente, as métricas serão a indicação deste trabalho.