Nos últimos anos, tem-se observado um fenômeno que merece reflexão mais aprofundada no âmbito da formação e da pesquisa em Sistemas de Informação. Trata-se do progressivo movimento de aproximação — ou até mesmo de transferência — de certos tópicos e práticas, tradicionalmente desenvolvidos na área de Computação, para o domínio da Administração. Esse processo se manifesta de modo mais evidente com a popularização das abordagens conhecidas como low code e no code, que permitem a construção de soluções tecnológicas complexas sem a necessidade de competências técnicas aprofundadas em programação. Tal movimento tem implicações significativas tanto na configuração curricular dos cursos quanto na identidade científica das áreas envolvidas.
A experiência acumulada em programas de pós-graduação que buscaram estruturar linhas de pesquisa em Sistemas de Informação dentro do campo da Administração ilustra bem essa dinâmica. No passado, houve iniciativas de colaboração que envolveram a oferta conjunta de disciplinas por docentes oriundos tanto da Computação quanto da Administração. Essas iniciativas propiciaram um espaço interdisciplinar produtivo, no qual temas como a modelagem de processos empresariais, a gestão da informação e o uso estratégico dos sistemas computacionais eram tratados integradamente. Contudo, com o passar do tempo, observou-se certa descontinuidade dessas práticas colaborativas, possivelmente em função de mudanças institucionais e da reorientação de prioridades acadêmicas.
Outro aspecto relevante diz respeito à extinção ou transformação de disciplinas que, outrora, desempenharam papel importante na formação dos estudantes e na consolidação da área. Entre elas, podem-se citar disciplinas voltadas à pesquisa operacional aplicada, à modelagem de empresas, ao estudo de bancos de dados para sistemas de apoio à decisão e aos tópicos avançados em Sistemas de Informação. A supressão desses componentes curriculares sugere uma reconfiguração do campo, possivelmente relacionada à emergência de novas demandas formativas e ao impacto das tecnologias que simplificam o desenvolvimento de sistemas, transferindo parte dessa atividade para profissionais com formação mais próxima da gestão.
É fundamental, portanto, que as comunidades acadêmicas de Computação e Administração reflitam conjuntamente sobre os rumos dessa convergência. A interdisciplinaridade, que há tempos se apresenta como um valor na formação superior, precisa ser cultivada de maneira sistemática. A construção de uma agenda cooperativa entre as áreas, que considere as competências específicas e complementares de cada uma, pode evitar a diluição de saberes e fortalecer a capacidade de resposta das universidades às transformações do mercado e da sociedade.
Torna-se necessário discutir estratégias institucionais que estimulem o diálogo entre os cursos e programas de pós-graduação, retomando e ampliando as experiências colaborativas do passado. Essa articulação é particularmente relevante num contexto em que empresas globais sinalizam claramente, em suas missões e práticas, a intenção de democratizar o acesso às tecnologias de informação e comunicação, ampliando a atuação de profissionais de negócios na construção de soluções tecnológicas. Ignorar essa tendência seria um equívoco estratégico para as instituições de ensino superior que desejam manter a relevância e a atualidade de sua oferta formativa.