O que aconteceu com os Workshops?

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Há tempos recebi um comentário sobre este texto postado pelo Moshe Vardi em 2011 na CACM. Então escrevi um pequeno comentário sobre o tema. Hoje, analisando as dificuldades que estamos encontrando para obter submissões para diversos Workshops é preciso retornar a discutir o problema. Ao final deste texto tenho duas sugestões para estimular o debate.


Where Have All the Workshops Gone?
By Moshe Y. Vardi
Communications of the ACM, January 2011, Vol. 54 No. 1, Page 5
10.1145/1866739.1866740


Lendo o texto concordei com tudo o exposto e alinhei algumas visões sobre a realidade brasileira atual na pesquisa em computação. Estamos com uma redução enorme nos financiamentos da pesquisa e com uma avaliação dos professores por uma bibliometria naïf que só conta indicadores do tipo número de citações. O que ocorreu com os workshops? Como foi descrito neste texto eles passaram de um encontro limitado a um número de pessoas trabalhando em um tópico selecionadas pelos organizadores com base em seus trabalhos para mini-conferências com lista de avaliadores muito maior do que de artigos submetidos e sem uma consideração adequada de suas qualidades pela comunidade, em sua maior parte podem ser considerados como uma segunda (ou terceira) linha de conferências. Olhem este trecho:

Furthermore, most workshops today do publish proceedings, before or after the meeting, which means a workshop paper cannot be resubmitted to a conference. As a result, today’s workshops do not attract papers of the same quality as those submitted to major conferences“.

Então o que realmente ocorreu foi que a mania de avaliar pelo número de citações acabou deformando o objetivo dos workshops. Hoje com financiamentos reduzidos as boas conferências internacionais ficaram fora do alcance da maioria dos professores brasileiros, muitos publicam e se esforçam por ter parceiros internacionais para que eles possam pagar as taxas de inscrição. Por outro lado, um bom workshop pode ser muito produtivo pelo intercâmbio de experiências e convívio com um público específico.

1ª sugestão

Dagstuhl é um exemplo do que deveriam ser estes encontros. Participei em 2012 um sobre Publication Culture in Computing Research onde pude entender em campo a excelência destas atividades. Antes disso já havíamos proposta no encontro dos Grandes Desafios organizado pela SBC a criação de um centro como este no Brasil.

Estabelecimento de um centro para discussão de pesquisa – os presentes constataram que eventos de “brainstorming”, como o organizado, são muito raros. A maioria dos congressos e seminários em todo mundo segue um padrão básico de apresentação de artigos e discussões em torno de temas específicos. A ação proposta é a criação de um centro para encontros científicos à semelhança de Dagstuhl na Alemanha. Este centro foi criado para oferecer a cientistas da computação condições de desenvolver pesquisa de ponta. Uma das atividades mais conhecidas de Dagstuhl, por exemplo, são as conferências de até uma semana, em Computação, com no máximo 40 participantes, para discutir e desenvolver ciência de ponta em nível internacional. Outra classe de seminários são os orientados para temas mais, diria, conceituais. Cada conferência é proposta com até 3 anos de antecedência a um comitê científico e os participantes pagam apenas os custos de transporte para o local.

Está na hora de reativarmos esta demanda, isso seria possível fazer aqui no país com custos bem menores do que com viagens ao exterior. Precisamos de criatividade e, também, de mudar os critérios de avaliação: talvez a participação em um workshop deste gênero seja mais importante do que gastar 15k a 20k reais para apresentar fisicamente um artigo em uma conferência de grife. Olhem como as coisas não acontecem por aqui, a criação de um Dagstuhl brasileiro foi proposto em 2006, estamos em 2024 e nada aconteceu. 

2ª sugestão

Uma proposta interessante para revitalizar os workshops (WS) é transformar esses encontros em verdadeiros ambientes de trabalho colaborativo, em vez de serem apenas plataformas para a publicação e divulgação de artigos. Essa reformulação sugere um modelo em que os participantes apresentariam artigos curtos, dos quais apenas o resumo ou abstract seria publicado. Após a apresentação, as sessões seriam seguidas de mesas de debate aprofundadas sobre o tema abordado.

Esse formato apresenta várias vantagens significativas. Primeiro, evita que o conteúdo apresentado seja considerado “queimado” para publicação posterior em outro meio. Com a publicação limitada ao resumo, o autor mantém a originalidade e o ineditismo do texto completo, permitindo que ele seja submetido futuramente a revistas ou conferências com maior impacto.

Além disso, esse modelo promove um excelente ambiente para o debate construtivo sobre as linhas de pesquisa em andamento. Ao discutir os artigos de maneira aberta e crítica, os participantes têm a oportunidade de identificar pontos fortes e fracos, explorar novas perspectivas e sugerir melhorias. Isso cria um espaço dinâmico e interativo, onde a colaboração entre os pesquisadores é incentivada, o que pode levar a avanços significativos nas pesquisas.

Outro benefício desse formato é a possibilidade de aperfeiçoamento do artigo curto apresentado. Com as percepções e feedbacks recebidos durante os debates, o autor pode refinar e expandir o seu trabalho, transformando-o em um artigo mais robusto e bem fundamentado para uma futura publicação. Isso não apenas melhora a qualidade do trabalho, mas também aumenta as chances de aceitação em periódicos de alto impacto.

Portanto, ao transformar os workshops em encontros verdadeiramente colaborativos e focados no desenvolvimento das pesquisas, essa alternativa contribui para a produção de conhecimento mais aprofundado e de maior qualidade, além de preservar o valor dos trabalhos apresentados para futuras publicações.

Como garantir a participação? Vejo duas formas: (i) incluir em seus projetos, mesmo nos Universais, a participação em workshops ligados à pesquisa proposta, e (ii) ter uma publicação na conferência principal e associar a participação na conferência à participação no WS, isso até favorece a solicitação de recursos.

Estas são ideias iniciais para aprofundarmos o debate, a desvalorização e desprestígio dos workshops é muito ruim para a qualidade da pesquisa e para a troca de ideias entre os pesquisadores. Se a visão atual sobre os WS tivesse existido no passado, provavelmente a Mecânica Quântica e a Física não teriam se desenvolvido da forma exponencial do início do Século XX, as conferências de Solvay não teriam acontecido! Estas conferências eram realmente WS dedicados à discussão de temas atuais em Física e Química. Olhem a foto dos participantes da 5ª Conferência!


The Solvay Conference, probably the most intelligent picture ever taken, 1927

Perhaps the most famous conference was the fifth Solvay Conference on Physics, which was held from 24 to 29 October 1927. The subject was Electrons and Photons and the world’s most notable physicists met to discuss the newly formulated quantum theory. The leading figures were Albert Einstein and Niels Bohr. Seventeen of the 29 attendees were or became Nobel Prize winners, including Marie Curie who, alone among them, had won Nobel Prizes in two separate scientific disciplines. The anti-German prejudice that had prevented Einstein and others from attending the Solvay conferences held after the First World War had melted away. Essentially all of those names who had contributed to the recent development of the quantum theory were at this Solvay Conference, including Bohr, Born, de Broglie, Dirac, Heisenberg, Pauli, and Schrödinger.      (Wikipedia)